O presidente da CPMI dos Atos Golpistas, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), cancelou a sessão do colegiado prevista para esta terça-feira (22) por "falta de acordo" entre os parlamentares para a votação de requerimentos para convocar e quebrar sigilos de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de pedir a apreensão do passaporte dele e da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Antes do cancelamento, o presidente da CPMI chegou a adiar, por duas vezes, o início dos trabalhos da comissão, que inicialmente estava previsto para às 9h desta terça (22). De acordo com Maia, durante uma reunião preliminar, o clima entre os parlamentares ficou "muito acirrado", impossibilitando qualquer acordo.
A imprensa não teve acesso à reunião em questão, mas há relatos de que era possível ouvir muitos gritos dos parlamentares do lado de fora. "Hoje não tem mais [sessão], porque eu acreditei que seria possível fazer acordo, como foi feito outras vezes. [?] Só que hoje não foi possível. E, não tendo acordo, não há como se votar nada", acrescentou o presidente da CPI.
Na próxima quinta-feira (24), a comissão ouvirá o depoimento de um militar que fazia parte da equipe de Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro que foi implicado no caso da venda ilegal de joias sauditas que o presidente teria ocultado e desviado do patrimônio nacional.
Divergências
Um dos pontos de divergência entre os parlamentares era a quebra dos sigilos telefônico, telemático e de inteligência financeira, além da convocação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Enquanto a oposição tentava blindar a parlamentar pedindo que fosse votada apenas a sua convocação, a base governista da comissão queria votar - e aprovar - as quebras de sigilo de Zambelli, com base nas informações apresentadas pelo hacker Walter Delgatti Neto.
O hacker alega que Zambelli intermediou encontros seus com Bolsonaro para deliberar sobre um plano para levantar dúvidas sobre o sistema eleitoral a partir de alterações que ele faria no código-fonte das urnas eletrônicas. Ele também recebeu de Carla Zambelli R$ 40 mil e uma proposta de emprego para invadir e inserir documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Além da quebra dos sigilos de Carla Zambelli, a senadora relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), defendeu a aprovação de requerimentos semelhantes contra um dos advogados de Bolsonaro, Frederick Wassef (que teve quatro celulares apreendidos para investigação); do ex-ministro da Defesa no governo Bolsonaro, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira; e do general Mauro Lourena Cid, cujo filho, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, está preso sob acusação de vender as joias sauditas ilegalmente nos Estados Unidos, supostamente a pedido do próprio Bolsonaro.
Apreensão de passaportes
Entre os requerimentos apresentados, mas ainda não apreciados pela comissão, também há alguns apresentados pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) pedindo que a CPMI convide o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro a depor, além da quebra de seus sigilos bancário, telefônico e telemático.
O parlamentar afirmou nas redes sociais, antes do cancelamento da reunião da CPMI, que fossem analisados e votados os seus requerimentos que pediam para a comissão solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a retenção dos passaportes de Bolsonaro e sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, diante do receio de que ambos possam fugir do país.