CASO DAS JOIAS

"O pior é que está tudo documentado", diz Cid sobre joias em mensagem

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro demonstrou preocupação em troca de mensagens no WhatsApp; veja a conversa.

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Tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid - Foto: Geraldo Magela

Quando veio a público a informação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) havia recebido joias do governo saudita, em 3 de março deste ano, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, enviou uma mensagem de WhatsApp ao advogado e ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten dizendo que "o pior é que está tudo documentado".

As trocas de mensagens entre os dois foram obtidas pela colunista Juliana Dal Piva, do Uol. O diálogo se inicia quando Cid envia a Wajngarten a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que revelou que as joias foram apreendidas no aeroporto de Guarulhos em 2021, e que Bolsonaro tinha tentado recuperar as peças em dezembro de 2022.

Wajngarten, então, diz a Cid: "Eu nunca vi tanta gente ignorante na minha vida". Não fica claro a quem ele se refere. O tenente-coronel responde: "Difícil mesmo. O pior é que está tudo documentado". Na sequência, o advogado questiona: "Documentado como? explique-me por favor". Depois disso, Cid envia uma série de mensagens que foram posteriormente apagadas.

Wajngarten questiona Cid sobre joias

A colunista Juliana Dal Piva teve acesso às mensagens trocadas entre Wajngarten e Cid do dia 3 março a 4 de abril deste ano. Durante o período, o advogado questionou o tenente-coronel diversas vezes sobre o caso das joias sauditas, conforme a imprensa divulgava novidades.

No mesmo dia em que disse que "o pior é que está tudo documentado", Cid gravou um áudio explicando a situação a Wajngarten. "O presidente só ficou sabendo no final do ano, quando o chefe da Receita [Federal] avisou que tinha um bem presenteado para ele que estava ali. Então foi só bem no final do ano que ele ficou sabendo. Não sei dizer a data. Tanto que, em 2022, ninguém tocou nisso aí. Por isso que entrou para leilão, porque ficou mais de um ano", disse Cid. Na ocasião, o chefe da Receita Federal era Julio César Vieira Gomes.

O leilão citado por Cid no áudio foi suspenso após o caso das joias vir a público e passar a ser investigado pela Polícia Federal.

Horas após o áudio de Cid, Wajngarten faz uma série de perguntas sobre a localização do segundo pacote de joias que entrou clandestinamente no Brasil. "Ele recebe centenas de presentes. Ele nem sabe o que ele recebeu nesses quatro anos", respondeu Cid. "Mas onde está o acervo dele neste momento?", rebateu o advogado. "Não sei", completou Cid.

"Quem cuida?", questionou Wajngarten. "Deve estar em algum depósito. Cel Câmara", disse Cid, em referência ao coronel Marcelo Câmara, outro auxiliar de Bolsonaro.

O advogado, então, demonstra irritação. "Não pode ser. Pergunte a ele aí e a Célio e ao Pedro", se referindo a Célio Faria e Pedro Souza, que foram chefes de gabinete de Jair Bolsonaro na Presidência. Na sequência, Cid manda uma foto deles e diz que "não fala onde está o acervo".

"Impressionante como ninguém pensa"

A partir do dia 7 de março, Wajngarten passou a defender, nas mensagens, a entrega das joias para o Tribunal de Contas da União (TCU). Comentando uma reportagem que apontava que o kit estava guardado em um galpão, o advogado disse: "Acho que tínhamos de disponibilizar o bem imediatamente através do advogado". Cid concordou: "Perfeito!".

O tenente-coronel não menciona, porém, que o kit tinha ido com Bolsonaro para os Estados Unidos, e que quase foi vendido pelo ex-presidente. Essa informação foi descoberta posteriormente pela Polícia Federal através do próprio celular de Cid.

Dois dias depois, Wajngarten volta a abordar o tema. "Tem que devolver imediatamente. É impressionante como ninguém pensa", escreveu.

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