O depoimento do general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, foi marcado por muita confusão, gritaria, transfobia e teve um deputado expulso da CPMI dos Atos Golpistas de 8 de janeiro de 2023
A defesa do ex-GSI de Bolsonaro chegou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que Augusto Heleno não fosse obrigado a comparecer ao depoimento, mas a solicitação foi negada pelo ministro Cristiano Zanin negou a solicitação , mas autorizou Heleno a permanecer em silêncio , direito que ele não está utilizando.
Transfobia, interrupções e deputado expulso
Durante a fala da deputada Duda Salabert, que foi muito crítica e contundente à atuação de Augusto Heleno, o depoente repetidamente se referia à parlamentar - que é uma mulher transsexual - como "senhor", numa atitude de clara transfobia, enquanto ela o corrigia: "é senhora".
Além da transfobia de Augusto Heleno, o deputado Abilio Brunini (PL-MT) estava nos fundos da sala da comissão e não parava de gritar, interrompendo Duda Salabert durante a sua fala.
O deputado seguiu gritando mesmo após a reclamação por parte de Arthur Maia (União - BA), presidente do colegiado. Maia, então, expulsou o deputado. Diante da recusa de Brunini, a sessão foi suspensa até que ele deixe o local.
O presidente da CPMI ainda determinou que a entrada do parlamentar - que sequer é membro da comissão - não seja permitida na próxima reunião da comissão.
"É pra ficar puto"
O primeiro conflito ocorreu quando Augusto Heleno se exaltou com a senadora relatora do colegiado, Eliziane Gama (PSD-MA) e chamou uma série de palavrões . Durante o período eleitoral, o ex-GSI - aliado de longa data de Jair Bolsonaro - afirmava que havia risco de fraude eleitoral.
Questionado a esse respeito pela senadora, Heleno disse que não poderia falar em fraude, ao que Eliziane Gama retrucou: "o senhor mudou de ideia". Visivelmente irritado, Augusto Heleno disse que Eliziane "fala como se tivesse na minha cabeça. É pra ficar puto, puta que pariu".
Depoimento
A convocação de Augusto Heleno se dá em meio ao vazamento de trechos da delação ainda sigilosa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Cid relatou que o presidente discutiu a possibilidade de um golpe com comandantes das Forças Armadas em uma reunião em 2022.
Heleno também negou a participação de Cid nessa reunião, classificando-a como "fantasia", mas foi desmentido pela revelação de uma foto do encontro em que o ex-ajudante de ordens aparece ao fundo.
Augusto Heleno também alega nunca ter tratado de assuntos eleitorais com seus subordinados no GSI, e diz que não tem condições de prestar esclarecimentos sobre os eventos de 8 de janeiro porque deixou o gabinete em 31 de dezembro. Apesar de ter dito que nunca esteve nos acampamentos golpistas, o ex-GSI classificou-os como uma "manifestação política e pacífica".