O Centrão voltou a crescer o olho para o ministério da Saúde. Parlamentares do bloco majoritário da Câmara mal voltaram do recesso parlamentar e já mandaram recado para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informando que têm interesse em indicar o ministro daquela que é considerada uma das mais importantes pastas do governo federal. Para isso, os deputados querem a demissão de Nísia Trindade.
Logo nas primeiras horas de movimentação do Congresso Nacional em 2024, na última segunda-feira (5), aliados de Lula ouviram de diversos deputados federais que é preciso dar mais espaço dentro do governo para o Centrão. Alguns, inclusive, colocaram a possibilidade de votar com a administração pela desoneração, tema que está em voga neste momento, desde que o ministério da Saúde vá para algum partido da base aliada.
Líderes do governo, segundo apurou o Último Segundo, deram o recado ao presidente, mas ouviram a resposta que vem sendo repetidas há meses. Nísia Trindade é um dos cargos da cota pessoal presidencial e Lula não pretende abrir mão de tê-la no comando da pasta. Porém, o governo parece disposto a negociar mais espaço para o bloco e até abrir mão de algum ministério que esteja com o próprio PT, mesmo que sem citar nenhum específico.
Nísia Trindade vem sofrendo um batalhão de críticas da classe política desde que assumiu por estar numa pasta muito visada e pelo fato dela não ser política. Sem filiação partidária e com histórico técnico, ela conseguiu, em 2023, contornar a situação ao abrir negociações com o Congresso Nacional e aprovando pautas consideradas bombas.
No início de 2024, com a iminência do Brasil viver um surto de dengue, o ministério da Saúde voltou a ficar em evidência e o Centrão percebeu fragilidade na cadeira, tentando outra vez um levante para levá-la à demissão.
Tudo isso acontece ao mesmo tempo em que as relações entre Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) estão estremecidas e precisarão ser controladas. O chefe do poder Legislativo fez um duro discurso na reabertura dos trabalhos, com direito a muitas indiretas. No mesmo dia, o PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, anunciou que estava saindo do bloco comandado por Lira na Câmara.
Nos corredores de Brasília a aposta é de que o Centrão quer e o Centrão vai ter maior fatia no mandato de Lula. Mas parece ponto pacífico que o presidente comprou a briga de Nísia e que não irá demiti-la nas próximas reformas ministeriais.