O novo ministro que tomará posse no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta (22), Flávio Dino, decidiu não participar das luxuosas festas que associações ligadas ao Direito bancam para paparicar os novos membros da corte e, em vez disso, irá a uma missa na Catedral Metropolitana de Brasília. Convites não faltaram, foram dezenas. Mas o primeiro compromisso de Dino será o mesmo roteiro que foi seguido pelo "terrivelmente evangélico" e colega de toga, André Mendonça: a igreja.
O ex-ministro de Bolsonaro assumiu a cadeira no STF e partiu para celebrar um culto em Brasília promovido pela Assembleia de Deus em Madureira, instituição à qual o ministro é ligado.
Dino, que é católico e sempre professou essa fé, vem dizendo que trocou a figura combativa político-partidária pelo perfil de juiz discreto. E recusar participação nas festas onde os seletos ingressos costumam custar acima de R$ 600 por pessoa ajuda a sustentar esse novo perfil.
Conforme foi se aproximando a indicação e a posse de Dino, a cada fala pública que fez, ele trouxe consigo mais citações bíblicas e exaltações a Deus. Com essas metáforas, além de quebrar a resistência de conservadores que temiam por um "comunista e radical", afrouxou um pouco o personagem do "Dino lacrador e debochado", que a oposição explora.
A entrada de Dino no Supremo pode abrir um caminho para a esquerda avançar e se posicionar em discussões sobre costumes e temas de interesse dos religiosos sem decisões radicais, buscando entendimento entre diferentes visões de mundo e teses jurídicas. Isso porque, ainda que reforce o perfil conservador, Dino diverge de Mendonça em trajetória pública e convicções pessoais, com uma visão progressista, longe do reacionarismo. No médio e longo prazo as decisões e teses do novo ministro poderão familiarizar de maneira mais natural líderes religiosos e seus fiéis com líderes de esquerda e seus militantes.
A posse de Dino deve ter ao menos 900 convidados e autoridades no STF, que vão lotar o plenário para a sessão marcada para às 16h. Com os protocolos e discursos, é improvável que o evento termine e todos consigam tirar uma foto cumprimentando o novo ministro até às 19h, horário da missa. Assim, o tradicional "beija-mão" deve continuar na Catedral, na outra ponta da Esplanada dos Ministérios, reforçando ainda mais o novo perfil de Dino.