Facções criminosas utilizam gestos e símbolos como forma de controle territorial e intimidação. Gestos que parecem simples, como dois dedos que simbolizam 'paz e amor' ou 'vitória', podem ser interpretado como apoio ao CV (Comando Vermelho).
Já um gesto como roqueiro, por exemplo, levantando três dedos, pode ser visto como uma saudação para integrantes do BDM (Bonde do Maluco). Em um cenário de guerra entre as duas facções, fazer qualquer sinal pode resultar em violência letal, como vem ocorrendo na Bahia.
O que aconteceu
Em 2024, ao menos seis pessoas foram assassinadas na Bahia após exibirem gestos associados a facções criminosas. Esses gestos, frequentemente compartilhados nas redes sociais, são vistos por facções rivais como provocações diretas. O resultado é uma violência brutal, com retaliações que ocorrem rapidamente.
Entre os casos mais marcantes está o de dois irmãos adolescentes, mortos no início de outubro, após posarem para uma foto exibindo o sinal do número três com os dedos, associado à facção conhecida como BDM. Uma adolescente que estava com eles na foto também foi baleada, mas sobreviveu.
Recentemente, grupos de turistas têm sido alertados por guias que realizam passeios por Salvador para evitarem tirar e postar fotos com sinais e gestos.
O advogado e professor de Direito Penal, Armindo Madoz Robinson, destaca que esses gestos funcionam como uma afirmação de poder territorial. Ele explica que o uso de sinais faccionais, como o "sinal do 3", vai além de identificar membros; é um mecanismo de intimidação. "Esses gestos consolidam a autoridade da facção sobre o território e intimidam rivais", afirma.
A propagação dessas imagens nas redes sociais aumenta o risco de retaliação. Robinson ressalta que uma foto pode se espalhar em minutos, transformando-se em um gatilho para a violência. "A pessoa pode não ter envolvimento, mas, ao postar um gesto ligado a uma facção, ela se coloca em grande risco", alerta o especialista.
O uso de uma simbologia própria é parte da estrutura dessas facções. Rogério Neres, advogado criminal e professor de Direito Penal da Universidade Cruzeiro do Sul, esclarece que gestos, cortes de cabelo e tatuagens funcionam como códigos de comunicação entre membros. "Qualquer provocação pode ser mortal", afirma Neres.
A Polícia Civil e o Ministério Público também monitoram gestos que possam sinalizar apologia ao crime. Neres adverte que, em alguns casos, fazer esses gestos nas redes pode resultar em investigações criminais. "A pessoa pode ser erroneamente vista como membro de uma facção e acabar sendo investigada", completa.
Assista reportagem do Jornal da Band sobre o asunto